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terça-feira, 13 de agosto de 2013

ARTIGO: UM CANTO CONTIDO


 
 Lindisay Giany Moreira é licenciada em Ciências Biológicas e acadêmica de Pedagogia, ambas pela Universidade Federal do Amapá. Especialista em Educação Ambiental, professora de escola pública e poeta. Ouve Cartola entre uma coisa e outra. Não vive sem livros e acredita que vida e música são assuntos intercambiáveis.











Ao falar-se em música popular amapaense vem logo à mente canções regionais como “Vida boa”, de Zé Miguel e “Jeito Tucuju” de Val Milhomem e Joãozinho Gomes, por retratarem uma parte da vida do homem ribeirinho de nossa Amazônia. Mas o Amapá é isso tudo e muito mais. Somos privilegiados por artistas que além de nos maravilharem com a poesia do regionalismo, nos embalam na sofisticação do blues, com os insuperáveis samba e chorinho, com o reggae e porque não a “zanquerada”, ritmo caliente de Finéias Nelluty. Dentre tantos outros grandiosos compositores que contribuem significativamente para a nossa cultura, Nonato Santos, é um mestre “Quixote”, nos embala em suas melodias. Serginho Salles enobrece nossos ouvidos com seu som encantador. Willian Cardoso, “não deixa o samba morrer” – título de seu novo trabalho – nem qualquer outro ritmo, que com fabulosa ousadia, nos privilegia com suas composições excepcionais e arranjos sem igual. João Amorim com composições envolventes, que nos transportam para um campo de “margaridas”. E eles são muitos: Enrico Di Miceli, Lolito do Bandolim, Oneide Bastos, Nivito Guedes, Negro de Nós, Patrícia Bastos, Amadeu Cavalcante, Alê D’Ilê, Tom Campos, Celine Guedes, Osmar Jr., Ana Martel, Brenda Mello... Nossa lista de gigantes da música é interminável. Ainda bem!

“Música da terra”, gentilmente batizada pelo povo, expressão que se popularizou e que rendeu a irônica “Minhoca”, composição de Zé Miguel. São grandes talentos que já ganharam o Brasil. Por isso, não penso em “música amapaense”, penso em “música brasileira”, afinal, são muitos prêmios em festivais pelo Brasil inteiro que a música genuinamente amapaense já conquistou. Quanta “bagagem” cultural nossos artistas possuem e ainda assim são pouco valorizados. Alguns vivem exclusivamente da música e fazem inúmeros sacrifícios para gravar seus CDs e promover seus shows. Apesar de possuírem repertórios admiráveis e que, em comparação àqueles já consagrados na MPB, não deixam a desejar em absolutamente nada. Há pouca divulgação do que é produzido aqui e quando assim acontece, concentra-se em apresentações em projetos como Casa do Chorinho, Projeto Botequim, Sescanta, Fim de Tarde no Museu e outras casas de shows amapaenses ou eventos festivos. 

A música que a grande massa amapaense consome é aquela midiática, a que “está na moda”. Aqui, pagam-se valores exorbitantes para se prestigiar um pseudoartista que se promove mundialmente com uma única faixa, enquanto desconhecem as infindáveis produções dos artistas daqui. Além disso, o próprio poder público deixa à mercê o músico que está na estrada há anos, com canções que conquistaram corações Brasil afora. Falo de artistas renomados, com carreira e não desses que surgem subitamente. São currículos construídos com competência, profissionalismo e para a grande maioria, com muita humildade.

São artistas grandiosos pela infindável beleza do que nos oferecem materializadas em canções. E isso não deveria ser consumido, mas “devorado” por cada um de nós, não pura e simplesmente pelo apego ao que é nosso, mas em se oportunizar a conhecer o que há de bom a partir de onde vivemos, mas isso é algo que se aprende. Uma música de qualidade não tem preço, tem valor. E essa terra aqui produz música para além do regionalismo. Tais artistas nos surpreendem sempre pela genialidade de poetizar tudo. Os frutos que nos oferecem são infindáveis, que perpassam pela sensibilidade e primor da sonoridade que nos presenteiam.

Deixemos então esse canto ecoar pelos quatro cantos do mundo, a começar pela “linha do Equador, na esquina do rio mais belo”.


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