Lindisay Giany Moreira é licenciada em Ciências
Biológicas e acadêmica de Pedagogia, ambas pela Universidade Federal do Amapá. Especialista
em Educação Ambiental, professora de escola pública e poeta. Ouve Cartola entre
uma coisa e outra. Não vive sem livros e acredita que vida e música são
assuntos intercambiáveis.
Ao falar-se em música popular
amapaense vem logo à mente canções regionais como “Vida boa”, de Zé Miguel e
“Jeito Tucuju” de Val Milhomem e Joãozinho Gomes, por retratarem uma parte da
vida do homem ribeirinho de nossa Amazônia. Mas o Amapá é isso tudo e muito
mais. Somos privilegiados por artistas que além de nos maravilharem com a
poesia do regionalismo, nos embalam na sofisticação do blues, com os
insuperáveis samba e chorinho, com o reggae e porque não a “zanquerada”, ritmo caliente de Finéias Nelluty. Dentre
tantos outros grandiosos compositores que contribuem significativamente para a
nossa cultura, Nonato Santos, é um mestre “Quixote”, nos embala em suas
melodias. Serginho Salles enobrece nossos ouvidos com seu som encantador.
Willian Cardoso, “não deixa o samba morrer” – título de seu novo trabalho – nem
qualquer outro ritmo, que com fabulosa ousadia, nos privilegia com suas
composições excepcionais e arranjos sem igual. João Amorim com composições
envolventes, que nos transportam para um campo de “margaridas”. E eles são
muitos: Enrico Di Miceli, Lolito do Bandolim, Oneide Bastos, Nivito Guedes,
Negro de Nós, Patrícia Bastos, Amadeu Cavalcante, Alê D’Ilê, Tom Campos, Celine
Guedes, Osmar Jr., Ana Martel, Brenda Mello... Nossa lista de gigantes da
música é interminável. Ainda bem!
“Música da terra”, gentilmente
batizada pelo povo, expressão que se popularizou e que rendeu a irônica
“Minhoca”, composição de Zé Miguel. São grandes talentos que já ganharam o
Brasil. Por isso, não penso em “música amapaense”, penso em “música
brasileira”, afinal, são muitos prêmios em festivais pelo Brasil inteiro que a
música genuinamente amapaense já conquistou. Quanta “bagagem” cultural nossos
artistas possuem e ainda assim são pouco valorizados. Alguns vivem
exclusivamente da música e fazem inúmeros sacrifícios para gravar seus CDs e
promover seus shows. Apesar de possuírem repertórios admiráveis e que, em
comparação àqueles já consagrados na MPB, não deixam a desejar em absolutamente
nada. Há pouca divulgação do que é produzido aqui e quando assim acontece,
concentra-se em apresentações em projetos como Casa do Chorinho, Projeto
Botequim, Sescanta, Fim de Tarde no Museu e outras casas de shows amapaenses ou
eventos festivos.
A música que a grande massa
amapaense consome é aquela midiática, a que “está na moda”. Aqui, pagam-se
valores exorbitantes para se prestigiar um pseudoartista que se promove
mundialmente com uma única faixa, enquanto desconhecem as infindáveis produções
dos artistas daqui. Além disso, o próprio poder público deixa à mercê o músico
que está na estrada há anos, com canções que conquistaram corações Brasil
afora. Falo de artistas renomados, com carreira e não desses que surgem
subitamente. São currículos construídos com competência, profissionalismo e
para a grande maioria, com muita humildade.
São artistas grandiosos pela
infindável beleza do que nos oferecem materializadas em canções. E isso não deveria
ser consumido, mas “devorado” por cada um de nós, não pura e simplesmente pelo
apego ao que é nosso, mas em se oportunizar a conhecer o que há de bom a partir
de onde vivemos, mas isso é algo que se aprende. Uma música de qualidade não
tem preço, tem valor. E essa terra aqui produz música para além do
regionalismo. Tais artistas nos surpreendem sempre pela genialidade de poetizar
tudo. Os frutos que nos oferecem são infindáveis, que perpassam pela
sensibilidade e primor da sonoridade que nos presenteiam.
Deixemos então esse canto ecoar
pelos quatro cantos do mundo, a começar pela “linha do Equador, na esquina do
rio mais belo”.
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